O Steam Deck foi lançado pela Valve em fevereiro de 2022. Na época, a promessa era ser um PC portátil para jogar games de PC e trazer portabilidade para usuários que já possuem contas Steam recheadas de jogos. Mas seu lançamento foi marcado por alguns problemas e incompatibilidades, que foram corrigidas com o passar do tempo. Só fui comprar o aparelho em junho de 2023, mais de um ano depois, quando ele me chamou a atenção de verdade. Pouco tempo após sair do hospital, queria mais alternativas para jogar que não envolvesse ficar sentado na frente do PC, dado meu quadro físico ainda sensível. Agora, dois anos depois, minha experiência com o dispositivo está mais do que solidificada.
Sou um usuário que já tem acesso a outros dispositivos para games em casa. Consoles e portáteis, ou híbridos, como no caso do Nintendo Switch. Mas o Steam Deck me atraiu não apenas pelo motivo que já citei acima – também pelo fato de sua biblioteca já ser recheada, dependendo do usuário. E eu sou um usuário da plataforma da Valve com conta bastante antiga, com uma enorme variedade de títulos.
Digo isso, pois pode parecer estranho querer mais um aparelho de videogame, tendo acesso facilitado a outros. Mas o Steam Deck se garante por algumas vantagens que ele oferece a quem usa, seja na biblioteca de jogos, portabilidade, praticidade e, principalmente, versatilidade. Mas, vamos por partes.

Para queM serve o Steam Deck?
Ele é, basicamente, um PC portátil, de fato. Um computador com Linux instalado, que foi adaptado para rodar um sistema personalizado pela Valve, que é compatível com a maioria dos jogos presentes na loja online da empresa – e que também funciona como computador, de fato, se assim o usuário desejar. Não se engane: sua principal função ainda é “jogar”. Mas, para quem gosta de explorar o máximo de seus aparelhos – afinal, eles são caros -, vai poder aproveitar um pouquinho mais deste pequeno querido, ou não tão pequeno assim.
É verdade. Ele é um videogame robusto. O tempo de dispositivos como o PSP ou o Nintendo DS Lite já passou. Portáteis agora são grandes, largos, com as maiores telas possíveis. E também são caros, por conta disso. Quando comprei, em junho de 2023, paguei cerca de R$ 3400 no modelo LCD com 64GB de armazenamento interno. Em uma rápida pesquisa na Amazon, vejo que é possível comprar o modelo LCD de 256GB por R$ 3800, um valor bem mais interessante. Quem preferir pode ainda comprar a versão OLED, mais moderna e mais potente, com 512GB de armazenamento – esta sai por cerca de R$ 5300.
São preços que, apesar de altos, compensam a experiência. Ao menos no meu caso, e posso dizer isso, com certeza, após estes mais de dois anos de uso.
O que acontece comigo: trabalho em home office, até o momento, sentado na frente do meu computador por quase todo o horário comercial, com breves intervalos para esticar as pernas, usar banheiro e, claro, almoço. Ao fim do expediente, quero me afastar do computador o mais rápido o possível, com raríssimas exceções. Tudo que eu não quero é continuar usando, mesmo para diversão – e isso inclui jogar.
E veja bem, meu computador não é ruim. Recentemente atualizei a máquina com (muito) mais memória, processador de última geração, quase tudo novo, só faltou mudar a placa de vídeo. Rodo sem nenhum problema qualquer tipo de jogo atual, incluindo lançamentos. Mas, mesmo assim, não sinto tanto vontade de jogar no PC, exceto quanto preciso fazer alguma live via Twitch ou similares. Assim, o Steam Deck vem como uma alternativa não apenas boa, mas necessária.
Segundo consta, minha conta do Steam foi criada em 2007. Nada menos que 18 anos de história condensados em uma mesma conta, com jogos antigos, novos, lançamentos, clássicos, todo tipo de game. Imagine ter uma máquina, além do seu computador, com acesso completo a esse histórico. Ao abrir o menu do meu Steam Deck, vejo: cerca de 800 jogos na minha conta, sendo 300 totalmente compatíveis (falarei mais sobre isso, em breve, ainda neste texto). É uma facilidade e praticidade sem igual, em nenhuma outra plataforma, quando pensamos em PlayStation, Nintendo ou Xbox.
Veja, estamos no PS5. O primeiro PlayStation é dos anos 90. De lá para cá, muitos jogos foram perdidos em outras gerações e não estão disponíveis no console mais recente, por mais que existam relançamentos, remakes e remasters. Com o Steam Deck, esse problema virtualmente não existe, se você tiver uma conta antiga do Steam e já com algumas dezenas de jogos acumulados, como é o caso de muita gente que compra este aparelho.
Problemas do Steam Deck
Mas ok, vamos à ressalva: o Steam Deck não é compatível com absolutamente 100% dos jogos disponíveis na plataforma. Além disso, oficialmente, ele não tem acesso a outras lojas além do Steam. Isso o limita a não acessar games populares gratuitos, como é o caso de League of Legends ou Fortnite, por exemplo. Além disso, o Steam mantém uma curadoria sobre quais games são totalmente compatíveis, incompatíveis ou parcialmente compatíveis – neste último caso eles rodam, mas podem apresentar algum tipo de problema, como texto muito pequeno, comandos bagunçados e coisas do tipo.
É um problema, com certeza, mas não um dos grandes. No momento em que faço este texto, cito alguns jogos que possuo e que são incompatíveis com o Steam Deck: Battlefield 6, Silent Hill 2 Remake, EA Sports FC 26, Borderlands 4, Black Myth Wukong, GTA 5, Dragon’s Dogma 2, entre outros tão populares quanto. Isso não significa que jogos famosos não vão rodar, pelo contrário. Temos títulos compatíveis como Baldur’s Gate 3 e Clair Obscur Expedition 33. Mesmo assim, certos jogos podem até rodar, com modificações e limitações, como é o caso do Silent Hill 2 Remake.
Essa questão dos jogos, porém, talvez seja a única grande ressalva para muitos usuários. Mas existe outra, que é bem óbvia.
Infelizmente o Steam Deck não é comercializado oficialmente pela Valve no Brasil. E provavelmente nunca será. A empresa costuma ignorar o País quando se trata de hardware e acesso a alguns serviços, o que é um completo absurdo. O Brasil é o segundo país que mais acessa o Steam, com mais de 140 milhões de usuários, atrás apenas da Índia, mas na frente de países como EUA, Rússia e México.

Isso significa que, por falta da representação oficial, temos preços arbitrários. Além disso, não há suporte técnico. Eu, por exemplo, tive problemas com o meu aparelho: a bateria interna inchou após alguns meses de uso e tive que buscar uma empresa especializada para fazer o reparo. Por sorte, encontrei uma empresa boa e bastante responsável perto da minha casa, mas eu moro em uma capital movimentada, talvez não seja o caso de outras pessoas. Se der defeito, como vai consertar de forma adequada?
Além disso, por ser um sistema personalizado, nem sempre ele é o mais estável. Pode ser comum enfrentar problemas de travamento em alguns menus, ou inconsistências. A Valve lança atualizações constantes, sempre procurando corrigir as falhas, mas espere por, vez ou outra, encarar situações inexplicáveis.
Claro que a limitação de fábrica de estar ligado ao Steam também atrapalha, mas há formas de contornar isso, instalando plugins ou outras lojas, como a Epic Games Store e o GOG, via programas de terceiros, usando o modo Desktop do Steam Deck. Não é uma tarefa tão simples, mas é fácil o suficiente para aprender ao observar um tutorial no YouTube e similares.
Mesmo assim, um ótimo aparelho
Mas é impossível usar o Steam Deck por um longo período e não recomendar o aparelho. É o PC portátil mais versátil e completo do momento, além de ter um preço que pode ser competitivo. Isso se torna ainda mais verdadeiro se você tiver uma conta do Steam bem antiga ou, no mínimo, com alguns poucos anos de história. É comprar o aparelho e já ter um grande acesso a biblioteca de games que vão te agradar ou te fazer jogar de outras formas.
O Steam Deck é virtualmente perfeito no que se propõe fazer, que é servir como uma forma de aproveitar jogos de PC sem ter que ficar sentado na cadeira do seu PC. Lembrando que, hoje em dia, é comum que existam pessoas que nem computador tem em casa. Ele também acaba servindo como um aparelho de entrada para este mundo. Apesar de ter a tela pequena, o dispositivo é compatível com mouse e teclado, via Bluetooth ou conexão por cabos, usando uma base de terceiros.
Por falar nisso, vale o adendo: há um grande suporte de aparelhos de terceiros e que são compatíveis ou que foram desenhados para o Steam Deck. Eu mesmo comprei uma base que é capaz de conectar o videogame com a TV, como se fosse um Nintendo Switch. Assim tenho ainda mais conforto: acesso aos meus jogos de PC, mas jogando no sofá da minha sala e em uma tela gigantesca. Peguei o meu em um anúncio que parecia promissor no AliExpress. Funcionou bem e uso até hoje sem nenhum tipo de problema, inclusive com conexões USB extras, caso eu queira instalar mais dispositivos periféricos.
É um aparelho completo, robusto e que atende tudo que eu preciso nele. Existem alternativas no mercado, algumas com maior liberdade no sistema, como o ROG Ally, que também conta com representação oficial no Brasil. O preço, por outro lado, não é dos mais atrativos. Vai do gosto, e do bolso, de cada um. Além de ser mais atrativo, no meu caso, ter acesso a tudo que já possuo no Steam de forma prática e confortável.
Se ainda estiver com dúvidas sobre o Steam Deck, me envie mensagens nas redes sociais, terei o prazer de sanar mais questões que você tiver a respeito do dispositivo, caso esteja pensando em comprar um.

