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Comprar menos, jogar mais, gastar melhor

Já faz algum tempo que eu faço questão de ter ao menos algum acesso facilitado a todos os atuais aparelhos de videogame do mercado. Seja por comodidade ou também pelo trabalho. Assim, hoje, tenho ao menos um PlayStation, Xbox, Nintendo e também um PC disponível para jogos em casa. Essa, contudo, é uma situação que se torna cada vez mais insustentável e que vão exigir uma mudança de postura.

Não apenas os consoles e aparelhos estão cada dia mais caros, mas todo o ecossistema acompanha as atualizações de preço, cada vez maiores. Jogos que custam mais da metade de um salário mínimo brasileiro, assinaturas em todas as plataformas e com preços subindo sem nenhuma contrapartida, acessórios igualmente caríssimos, além de gastos em conteúdos adicionais, que sempre são lançados e em quase todos os títulos.

Acabamos de ver um videogame ser anunciado a US$ 1 mil, ou mais de R$ 5 mil em conversão direta. Segundo o IBGE, em 2024, apenas um ano atrás, a média salarial brasileira beirou os R$ 3 mil. Como continuar sustentando um hobby que fica a cada dia mais caro e que não parece se importar se você não tem dinheiro o suficiente para fazer parte?

Mil conto? Really?

Sim, eu sei, videogame sempre foi caro, sempre. Videogame também não é produto de “primeira necessidade”. Mas se continuarmos com esse discurso, não consumimos nada. Acabamos caindo na falácia de que o povo só precisa ter acesso ao básico e que “luxos” serão sempre desnecessários ou reservados somente para classes mais ricas da sociedade.

É preciso reclamar, protestar, fazer valer sua voz, se é algo que te faz bem, um hobby saudável e que pode abrir portas para outras áreas importantes da sua vida, como a socialização, só para citar um mais óbvio.

Vivemos em um mundo onde um jogo muito elogiado, como Silksong, é lançado por R$ 60. Hades 2? Menos de R$ 90 no Steam. Até mesmo um título mais “parrudo”, tipo Clair Obscur: Expedition 33, é vendido por no máximo R$ 200 no PC, com promoções constantes que jogam o preço para abaixo disso.

Do outro lado do balcão, empresas especializadas em consoles se debruçam sobre o mercado com lançamentos a R$ 400, R$ 500, até R$ 600. Uma edição do jogo Flight Simulator 2024 para o PS5 está, neste momento, listada a R$ 860 na PlayStation Store. Supostamente ela vem “apenas” 50 aviões a mais do que a edição mais barata para justificar seu preço mais elevado. Como assim? Quando que normalizamos isso? A resposta simples é essa: não normalizamos.

E não vem um avião de verdade

Os preços são praticados, aumentos são anunciados e não podemos fazer nada. Não existe uma legislação que proteja o consumidor contra aumentos de serviço de streaming. Sua única opção é cancelar e perder o acesso ao seu entretenimento. O mesmo vale para aumentos em serviços de assinatura de games, como Game Pass e PlayStation Plus. O que começou como praticidade e facilidade, hoje beira os R$ 60 ou R$ 70 mensais para poder jogar um pouco mais. Em um ano, gastou-se quase R$ 1 mil adicionais, em um console onde você já desembolsou bastante dinheiro.

E nada impede que esses aumentos continuem, enquanto salários e o poder de compra do brasileiro não acompanham o mesmo crescimento. Quanto custará o Game Pass daqui três ou quatro anos? E o preço de um lançamento que virá após GTA 6, que com certeza será mais caro do que o atual padrão? E mesmo assim, vai vender milhões…

Por isso, estou bastante inclinado em relação à minha decisão sobre a próxima geração de consoles: ela possivelmente não existirá aqui em casa. Enxergo o Nintendo Switch (e seus sucessores) e um Steam Deck (ou similares) como as melhores opções, além de um PC que eu já uso para poder trabalhar – e que me serve para jogar alguns jogos. No caso do Switch, apenas com o objetivo de jogar os exclusivos da própria Nintendo, que são ainda assim extremamente caros, mas realmente não saem em outros aparelhos. Já o PC, ou Steam Deck, servindo para abarcar outros vários jogos que sempre chegam nos computadores.

Eu tenho é medo de GTA 6…

Ainda vou gastar, claro, pois são aparelhos caros e nem todos os jogos são tão “baratos” quanto os que citei mais acima no texto. Mesmo assim, são esforços que gostaria de fazer para continuar presente no hobby – e também para continuar meu trabalho nessa área, que eu gosto tanto. Veja bem, eu não sou rico. Muito pelo contrário. Me encaixo mais no velho ditado: “não sou rico, apenas endividado”. Faço parte de uma grande parcela da população que acaba devendo a banco (só a banco!), mas costumava ter uma situação confortável para, ao menos, ter uma versão de cada aparelho. Sem contar em eventuais parcerias, como a Intel, que me forneceu boa parte do computador que uso para trabalhar e para jogos.

Fica o apelo para que pensemos a respeito e façamos uma reflexão sobre consumir de forma mais inteligente e produtiva, seja para o mercado, seja para nós mesmos. Que compremos menos, mas compremos melhor. Jogar mais e gastar de maneira responsável e sadia. São meus votos para a próxima geração, que não demora muito para acontecer.

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